19 de março de 2010

LIDERANÇA MORAL

É necessário esclarecer o significado de liderança moral. A definição do termo "liderança" possui muitas conotações diferentes, algumas das quais contrárias ao sentido aqui empregado. Quando se pergunta a alguém o que é ser um líder, freqüentemente a resposta é "estar no controle", "dar ordens", "comandar", "ser o número 1". Para suprir as necessidades da humanidade neste estágio de maturidade, este conceito dominante de liderança deve ser questionado e substituído por um conceito centralizado na UTILIDADE. O objetivo desta nova liderança é dar poderes aos outros para que contribuam com a sociedade, em lugar de concentrar poderes sobre os outros. A principal característica de um líder moral deve ser o espírito de utilidade: "aquele que é mais útil à comunidade" em vez de "aquele que mais domina a sociedade".

Formas egocêntricas de liderança, infelizmente, têm dominado as páginas da História e tendem a prevalecer nas relações do mundo atual. Modelos autocráticos, paternalistas, totalitários, manipuladores e "sabe-tudo" de liderança enfraquecem os grupos que alegam servir. Tais formas de liderança concentram o poder de decisão nas mãos de uns poucos de tal maneira que os outros os sirvam. O que o mundo precisa hoje é exatamente o oposto dessa concepção - um novo modelo de liderança que se baseia em valores e princípios morais e devota sinceramente suas capacidades ao serviço do bem comum.

Há um duplo propósito na vida humana que dá direção e significado à existência.

O primeiro aspecto desse duplo propósito se refere ao processo de TRANSFORMAÇÃO PESSOAL. Seu objetivo é transformar as potencialidades latentes de um indivíduo em realidade, na qual os aspectos físico, intelectual e espiritual do ser humano possam atingir sua mais nobre e completa expressão. O cumprimento dessa meta requer o exercício constante do esforço individual na busca pela verdade e na aquisição e aplicação de conhecimento, sabedoria, virtudes e qualidades espirituais em todos os aspectos da vida diária.

A outra faceta desse propósito dual tem a ver com o complexo processo de TRANSFORMAÇÃO SOCIAL. A finalidade deste processo é a promoção de uma civilização em evolução contínua baseada em princípios de justiça e amor. O desenvolvimento de uma sociedade justa, em que o bem comum é estimulado por estruturas que facilitem a colaboração e a cooperação, e na qual os benefícios da iniciativa individual são resguardados e encorajados, é certamente a mais complexa e desafiadora tarefa da humanidade.

Esses dois aspectos do sentido da existência humana estão intimamente interligados. Por um lado, é impossível conceber uma transformação social sem indivíduos, que estão ativamente engajados na obtenção de sua transformação pessoal. Por outro, é igualmente impossível obter essa metamorfose individual num vácuo social. Um indivíduo pode desenvolver plenamente suas mais nobres potencialidades somente quando se dedica a servir aos processos de transformação social.

Em nossa estrutura de educação moral, a verdade é a base para definir o que é responsabilidade moral. Propõe-se que há duas verdades morais fundamentais que toda pessoa deve obedecer: a busca e o reconhecimento da verdade, e a aplicação dessa verdade na transformação pessoal e social, bem como em todos os outros aspectos da vida quotidiana. Quando cada indivíduo se esforça para cumprir com essas reponsabilidades, então a luz da verdade pode guiar a obtenção do duplo propósito da existência humana. Por "verdade", não se entende apenas aquilo que é descoberto pela pesquisa científica, mas também a verdade espiritual que é revelada pelas grandes religiões do mundo, que deram à nossa civilização sua base moral e espiritual. Essas duas fontes de verdade não são contraditórias, e sim complementares. Ambas são necessárias ao desenvolvimento de uma civilização em progresso constante.

O CONCEITO DE APTIDÃO

A esta altura é necessário aclarar o conceito de "aptidão", de acordo com o sentido empregado neste artigo, e explicar por que o desenvolvimento de tais capacidades é uma preocupação central em nossa abordagem de educação moral.

Abordagens tradicionais de educação - seja o desenvolvimento de caráter, seja o de virtudes - tende a promover um conceito passivo de pessoa virtuosa. Ser virtuoso é ser "bom’, manter-se longe de problemas. Nós objetivamos mudar esse conceito para outro em que virtuoso é aquele que está conscientemente e ativamente engajado em ações que promovam a transformação pessoal e social. Assim, ser virtuoso é "FAZER o bem". Esse novo conceito implica que o elemento virtuoso deve possuir certas aptidões que o fortalecem para executar boas ações.

Os tijolos da estrutura moral de um indivíduo incluem atitudes, qualidades, habilidades e aptidões, bem como conhecimento e compreensão de conceitos morais essenciais. Em lugar de examinar esses atributos individualmente, é útil considerá-los em grupos afins que formam uma função moral superior de um indivíduo - uma aptidão moral.

Uma aptidão é a capacidade que uma pessoa tem de executar tipos específicos de tarefas que são essenciais ao desenvolvimento e bem-estar tanto individual como coletivo.

FUNÇÕES DA LIDERANÇA

Estudos sociológicos indicam que há duas funções básicas de liderança dento de um grupo. Uma delas refere-se à promoção da unidade desse grupo. A efetiva promoção dessa unidade requer a capacidade de facilitar processos consultivos que permitam a tomada coletiva de decisões baseados numa sincera e rigorosa busca pela verdade. A outra tem a ver com o suprimento das necessidades e objetivos do grupo por meio de ações, ou seja, dedica-se a facilitar o processo de transformar pensamentos em atos concretos. Ambas funções são essenciais ao bem-estar de qualquer grupo, quer seja ele uma família, uma organização, ou uma comunidade local, nacional ou mundial.

APTIDÕES DA LIDERANÇA MORAL

A primeira aptidão da liderança moral é o aprendizado contínuo na aquisição de perfeições humanas, tanto na esfera intelectual como na espiritual. A primeira e mais importante dessas perfeições é a aquisição de conhecimento útil ao desenvolvimento da humanidade. Mas esse empenho deve ser equilibrado pela compreensão de que a verdadeira excelência do indivíduo não pode ser atingida fora da dedicação ao bem comum.

A segunda aptidão moral é concernente à atividade de educar os outros. Tal capacidade significa alguém ensinar aos outros um conhecimento, habilidade ou sabedoria que tenha adquirido. Um autêntico líder moral é aquele que volta seus esforços para a educação das massas, e trabalha dia e noite até que todos estejam protegidos pela fortaleza do conhecimento. Um líder moral fortalece os outros no serviço à humanidade.

A terceira aptidão tem a ver com a disciplina própria e o autocontrole. Significa a capacidade de opor-se às suas paixões, algo que não é muito fácil de se conseguir, ainda menos num ambiente dominado pelas corruptoras influências da sociedade materialista. A falta de disciplina é justamente uma das mais notáveis características da sociedade consumista.

A quarta aptidão é reconhecer e obedecer a verdade. Esta é a base fundamental de uma conduta moral. Um homem só pode ser realmente digno de confiança quando, e apenas quando, não se coloca acima da lei. A verdadeira liderança moral reconhece e entende a função das leis no desenvolvimento e na manutenção de uma sociedade civilizada e justa. Por essa razão, um autêntico líder moral jamais se posiciona acima da lei. Mesmo se considerar uma lei injusta, jamais se utilizará de meios violentos para sua mudança. Ao contrário, ele procurará fazer uso dos meios legais apropriados que existam para servir a tal propósito.

Essas quatro aptidões são inter-relacionadas e se respaldam mutuamente. A obtenção de uma facilita a aquisição das outras. Juntas, elas formam a estrutura básica do homem virtuoso e da verdadeira liderança moral necessária ao mundo atual.

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